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A ministra que atravessou a pandemia mas não resistiu à crise das urgências

Depois de ser um dos `rostos´ do combate à pandemia, Marta Temido apresentou a demissão de ministra da Saúde na madrugada de 30 de agosto, não resistindo à crise das urgências que se agudizou no verão.

Alegando que “deixou de ter condições” para exercer o cargo, a demissão foi aceite de imediato pelo primeiro-ministro, António Costa, mas Marta Temido manteve-se em funções até 10 setembro, a tempo de ver ainda aprovada pelo Governo a nova direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

No mesmo dia, António Costa admitiu que a morte de uma grávida transferida do Hospital de Santa Maria para o São Francisco Xavier possa ter sido a “gota de água” que levou à saída da governante, a primeira baixa de peso no Governo cinco meses após a sua tomada de posse.

Reconduzida no cargo pela terceira vez, Marta Temido, com uma carreira ligada à gestão da Saúde, passou um verão tranquilo em termos de covid-19, depois das seis vagas de contágios que o país atravessou desde de 2020 e que puseram à prova a capacidade de resposta do SNS.

As fragilidades do SNS ficaram evidentes no verão, com a dificuldade de vários hospitais em organizarem escalas completas de especialistas, o que obrigou ao encerramento ou ao funcionamento condicionado de serviços de urgência de obstetrícia e de blocos de partos, uma situação que ainda se mantém.

Para responder à situação, o Governo criou uma comissão de acompanhamento da resposta em urgência de ginecologia/obstetrícia e bloco de partos, coordenada pelo médico Diogo Ayres de Campos, que já entregou as suas propostas ao ministério, que remeteu para o início de 2023 as decisões políticas, que poderão passar pelo fecho de algumas maternidades.

Ao longo do tempo, sindicatos e ordens profissionais do setor exigiram a Marta Temido medidas estruturais para reforçar o SNS, alegando que a falta de condições de trabalho e salariais tem levado a uma “sangria” de médicos e enfermeiros, que encontram no privado e na emigração a atratividade que falta nos hospitais e centros de saúde públicos.

Depois de deixar o ministério da Saúde, onde entrou pela primeira vez em outubro de 2018 como ministra, Marta Temido assumiu o seu lugar de deputada na Assembleia da República, depois de ter sido cabeça-de-lista do PS por Coimbra.

Ao novo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, Marta Temido deixou um novo Estatuto para o SNS e a criação de uma direção executiva para coordenar a resposta assistencial aos utentes, mas também cerca de 1,4 milhões de portugueses sem médico de família, um processo negocial com os médicos por concluir, a reorganização dos serviços de urgências do país e a captação e fixação de profissionais nos hospitais e centros de saúde.