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Autarcas criticam Águas do Alto Minho e impõem prazo para melhorar desempenho

Os sete municípios que integram a Águas do Alto Minho (AdAM) criticaram hoje o desempenho da empresa, dando-lhe “o prazo de uma fatura” para que “vire a página”, face à “enorme desilusão” da sua atuação desde que foi criada.

“A nossa expectativa é que as coisas comecem a melhorar no prazo da próxima faturação. Se não melhorarem, vocês conhecem cada um dos presidentes de Câmara que estão aqui, não vamos ficar parados, nunca, em nenhuma circunstância. Temos feito um debate privado, nos locais próprios, nos órgãos de gestão, mas se as coisas não mudarem então temos de ser nós a mudar”, afirmou hoje o presidente da Câmara de Caminha.

O socialista Miguel Alves respondia às perguntas dos jornalistas numa conferência de imprensa iniciada com a leitura, pelo presidente da Câmara de Viana do Castelo, José Maria Costa, de um comunicado conjunto dos sete municípios que dizem ter “chegado o tempo de dizer basta à enorme desilusão do desempenho da AdAM”.

A AdAM, que gere as redes de abastecimento de água em baixa e de saneamento, começou a operar em janeiro de 2020, “dimensionada para fornecer mais de nove milhões de metros cúbicos de água potável, por ano, e para recolher e tratar mais de seis milhões de metros cúbicos de água residual, por ano, a cerca de 70 mil clientes”.

Na conferência de imprensa, que decorreu na biblioteca municipal de Viana do Castelo, e onde apenas não esteve presente o autarca de Valença, os municípios anunciaram, no comunicado conjunto, que vão “solicitar uma reunião, com caráter de urgência, ao ministro do Ambiente e da Transição Energética, para dar conta das suas preocupações e expectativas quanto ao novo ciclo da AdAM, que deverá contar com total empenho do parceiro Estado”.

Na resposta às questões colocadas pelos jornalistas, apenas falou o autarca Miguel Alves dizendo que o prazo de “semanas” para a empresa melhorar o desempenho foi transmitido, “olhos nos olhos”, pelo presidente do conselho de administração na última reunião que manteve com as sete autarquias.

“Se o que nos foi transmitido pelo presidente do conselho de administração é de que a próxima fatura já beneficiará de um sistema único, próprio, aplicado aos sete municípios e não um sistema agregado que levou a erros de faturação, se nos foi garantido que vão ser recrutados mais recursos humanos, nestes dias, para melhorar o atendimento, responder às ruturas que acontecem no território, fazer mais ramais, se nos foi garantido que haverá novas vias de comunicação para que as pessoas não fiquem horas penduradas ao telefone, sem capacidade para responder às pessoas e sem capacidade para devolver as chamadas, se nos foi isso tudo [afirmado] para estas semanas, o que esperamos é que no prazo de uma fatura (…) as coisas possam mudar”, explicou.

Miguel Alves escusou-se a apontar cenários sobre uma eventual rescisão do contrato de parceria, alertando que uma “eventual, hipotética dissolução da AdAM é uma boa notícia para os que querem privatizar a água”.

Apesar de não querer especificar cenários, o autarca referiu que “os municípios demonstraram que fizeram, ao longo dos anos, um bom serviço de abastecimento de água e saneamento básico, apesar de, nessa altura, também serem muitas as críticas”.
“Se nos juntámos aos melhores para sermos melhores e se esses melhores nos falham, no limite, teremos de encontrar soluções que passam por regressar a uma casa onde já fomos felizes, a casa de cada um. Mas isso é um cenário que não está em cima da mesa. Confiamos que a página vai ser mudada e que estamos no último momento em que é possível aguentar uma sucessão de erros tão crassa”, disse.

Apesar de classificar de “enorme deceção” o desempenho da empresa, Miguel Alves garantiu que os concelhos integrados na AdAM “continuam empenhados no sucesso de uma parceria que une municípios diferentes, com características diferentes e liderados por políticos eleitos por partidos diferentes”.

“Se nós, os sete, tivemos capacidade de nos unirmos, de nos agregarmos, de partilhar meios e recursos, se tivemos capacidade para, durante um ano, ouvirmos críticas duríssimas que nada têm a ver com cada um de nós e muitas vezes atingiram a nossa honorabilidade e, certamente, atingiram a credibilidade das câmaras que dirigimos, estamos disponíveis para acreditar na palavra do conselho de administração que nos garantiu que vai mudar de vida e que a AdAM vai mudar de vida”, referiu.

Explicou que a posição conjunta hoje tomada representou o “desejo” de “partilhar com a população” o “lamento” dos sete municípios.

“Basta. Basta de erros, basta de incapacidade de comunicar, basta de soluções a meio, basta de prejudicar as pessoas”, disse.

O autarca lamentou que a empresa assuma poucas vezes os erros e manifestou aos munícipes um “sincero pedido de desculpas” das autarquias, apesar de não terem “responsabilidade executiva direta na AdAM” e de “apenas quererem prestar um bom serviço” à população.

“Essa ideia não mudou e os municípios também não mudaram. O que mudou nesta equação foi a expectativa gorada de que a Águas de Portugal (AdP) pudesse ajudar-nos a melhorar e até agora, infelizmente, tem ajudado apenas a piorar o serviço”.

A empresa é detida em 51% pela Águas de Portugal (AdP) e em 49% pelos municípios de Arcos de Valdevez (PSD), Caminha (PS), Paredes de Coura (PS), Ponte de Lima (CDS-PP), Valença (PSD), Viana do Castelo (PS) e Vila Nova de Cerveira (Movimento independente PenCe – Pensar Cerveira), que compõem a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho.

Três concelhos do distrito – Ponte da Barca (PSD), Monção (PSD) e Melgaço (PS) – reprovaram a constituição daquela parceria.

(Notícia atualizada às 16h25)