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Rui Rio sai reforçado do congresso do PSD e elege autárquicas como rampa de lançamento

Tal como se esperava, Rui Rio saiu de Viana do Castelo aclamado vencedor do Congresso do PSD, mas continuará a ter de gerir um partido dividido pelas diferentes sensibilidades internas para enfrentar a batalha das eleições autárquicas.

Espelho dessa divisão foi o resultado obtido na votação para a sua Comissão Política Nacional (62,4%), menos do que a que conseguiu em 2018 (64,7%). Apenas Luís Filipe Menezes, em 2007, com 61,8%, teve uma votação mais baixa do que Rui Rio.

Rio optou por alterações cirúrgicas no seu núcleo duro, substituindo apenas dois elementos, Elina Fraga e José Manuel Bolieiro, pelos deputados André Coelho Lima (cabeça de lista por Braga) e Isaura Morais, ex-autarca de Rio Maior.

A votação nas listas para o principal órgão do PSD entre congressos, o Conselho Nacional, uma espécie de parlamento do partido, garantiu a Rio o maior número de lugares (21 em 70), mas assegura também uma voz significativa aos seus opositores, designadamente a lista apoiada por Luís Montenegro (16 conselheiros), seu principal adversário nas diretas.

Este 38º Congresso foi, aliás, marcado pela intervenção deste antigo líder parlamentar do PSD, o qual, citando Francisco Sá Carneiro, afirmou que não permanecerá calado. “O que não posso, porque não tenho esse direito, é calar-me, seja sob que pretexto for”, disse Montenegro, que só se mostrou disposto a dar o seu contributo “longe dos cargos partidários e públicos”.

Esta atitude contrastou com a de Miguel Pinto Luz, o outro adversário menos votado nas diretas de janeiro, que defendeu a unidade do partido para os próximos combates eleitorais e se disponibilizou para isso.

A lista de Rui Rio para o Conselho de Jurisdição Nacional (CJN), encabeçada por Fernando Negrão foi derrotada pela de Paulo Colaço, um militante do partido há muito presente em sucessivas listas ao CJN e que foi apoiado por Montenegro. Arrebatou cinco dos nove lugares deste órgão, substituindo assim Nunes Liberato na presidência.

O Congresso tornou também claro que Rui Rio quer transformar as próximas eleições autárquicas como a rampa de lançamento para conquistar o poder.
O mote foi dado logo no início, no discurso inaugural do presidente do PSD, no qual pôs como fasquia “aumentar, de forma muito significativa, o número de votos no PSD, mesmo quando estes não sejam suficientes para eleger” os candidatos do partido “ao lugar cimeiro”.

“A escolha de um autarca não é a escolha de um amigo nem a do líder de uma qualquer fação partidária. Ela tem de ser ditada com base em critérios de competências, dedicação e de credibilidade. Temos, em 2021, de recuperar o terreno perdido em 2013 e em 2017. Recuperar presidências de câmara, mas também de vereadores e eleitos de freguesia”, considerou Rui Rio.

As autárquicas de 2021 serão particularmente importantes para o PSD, na medida em que alguns dos seus autarcas com maior visibilidade atingem o limite legal de três mandatos, obrigando o partido a encontrar novas caras.

O apelo à renovação foi também feito pelo histórico líder do PSD-Madeira, Alberto João Jardim, o qual defendeu que o partido deve candidatar “como prioridade absoluta, sobre quaisquer outras alternativas, os melhores e mais aceites cidadãos de cada localidade não se ficando apenas pelos filiados”.

O maior aplauso dos três dias do Congresso foi arrancado pelo eurodeputado Paulo Rangel, quando anunciou que Rui Rio será primeiro-ministro e avisou que da próxima vez que o atual chefe de Governo “ensaiar” uma crise política, “é capaz de ter mesmo de se demitir e haver eleições para o PSD ir para o Governo”.

Quanto às alianças, ficou também claro que o rumo é com os partidos à direita. Apesar de Rui Rio se colocar ao centro, sendo o PSD “o líder de uma opção à direita da maioria de esquerda”, Nuno Morais Sarmento foi radical na defesa dessa via.

“O nosso caminho será sempre o de uma AD e nunca um Bloco Central. O espaço natural de entendimento do PSD são os partidos da direita democrática, antes o CDS e agora os novos partidos [Iniciativa Liberal e Chega]”, afirmou o vice-presidente de Rui Rio.

Já no discurso final, Rui Rio virou-se para o país e focou-se nas principais áreas da governação, colocando no topo das prioridades a reforma do sistema político e da Justiça, que defende há muitos anos.

O presidente do PSD considerou que Portugal tem de fazer reformas para devolver “transparência” ao sistema político, avançando com limite de mandatos dos deputados, e para reforçar a confiança na justiça e combater as lógicas dos “tabloides”.

No sistema judicial, Rui Rio atacou a demora nas investigações, a “relativa opacidade do seu funcionamento e o corporativismo prevalecente”, as fugas ao sistema judicial e até “a arrogância no comportamento de muitos dos seus agentes”.

Para o líder social-democrata, “o recente aumento dos vencimentos dos magistrados constituiu um momento em que a justiça cavou um pouco mais o fosso que a separa do povo em nome do qual ela deve ser exercida”, completou, recebendo uma salva de palmas dos delegados sociais-democratas.

Além da moção de estratégia de Rui Rio, o Congresso aprovou outras 13 moções temáticas, entre elas uma pedindo o referendo sobre a eutanásia e outra a instituição de primárias para a liderança do partido.

Foi, todavia, a moção “Por um Portugal mais feliz”, defendendo a felicidade e o bem-estar como “prioridade na agenda política” que acolheu uma salva de palmas.