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‘Shopping’ deserto recebe residência artística para germinar cultura em Viana

Quatro jovens artistas de Viana do Castelo querem dar vida a um centro comercial com 33 anos e em completo desuso e vão montar um “Andaime de Maio”, uma residência artística que pretende fazer germinar cultura.

“É um edifício extremamente central, com enormes potencialidades, em bruto, por explorar e que está em completo desuso. Gostávamos de recapitalizar, re-imaginar, reativar o espaço de uma forma não convencional, através de uma intervenção cultural”, afirmou hoje à agência Lusa, Gil Monteverde.

O jovem natural da União das Freguesias de Geraz do Lima (Santa Maria, Santa Leocádia e Moreira) e Deão, em Viana do Castelo, e que reside e trabalha no Porto é um dos quatro promotores do projeto que vai decorrer entre 14 de maio e 31 de julho, no centro comercial 1.º de Maio.

A residência artística, que decorrerá no último fim de semana de cada mês incluiu a realização de 19 concertos, 11 conversas, seis ‘performances’, oito oficinas, três sessões de cinema e quatro exposições”.

“As conversas vão abordar vários temas desde a história do centro comercial, a inclusão de culturas marginais, o futuro da cultura na cidade. Os concertos contarão com a participação de artistas locais e, para impulsionar novos públicos na cidade e converter Viana do Castelo num polo cultural visível a outras cidades, chamamos vários artistas de Lisboa, Porto, Barcelos e Guimarães”, apontou Gil Monteverde.

O ‘shopping’ abriu portas em 1989, foi uma referência na cidade. Há vários anos que se encontra bastante degradado, e com a maioria das 48 lojas desocupadas.

Gil Monteverde adiantou que um dos objetivos do “Andaime de Maio” passa por transformar o centro comercial numa incubadora de arte e cultura, onde possam nascer negócios ligados a estas áreas, ocupando as lojas vazias e dando vida um espaço praticamente abandonado.

“Todos os elementos da organização nasceram e cresceram em Viana do Castelo, mas vivem noutras cidades. Em Viana do Castelo não há oferta cultural e não há oportunidade de trabalho nessa área. Por esse facto, tivemos de nos deslocar para outras cidades e, nessas cidades, reparámos que os centros comerciais antigos, como o centro comercial da Cedofeita, no Porto, estão a dar oportunidade a outros tipos de comércio, não convencional, mais ligado à cultura. Gostávamos de implementar o mesmo tipo de lógica em Viana do Castelo”, afirmou o jovem.

Os quatro jovens, todos “com percurso na área das artes”, dizem sentir “uma desconexão generalizada com a cultura e com as pessoas da cidade, em parte por falta de oferta de um espetro mais abrangente de atividades artísticas e culturais”.
Um sentimento que se “manifestou ainda na adolescência e perpetua-se até aos dias de hoje”.  

Gil Monteverde, licenciado pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, lamentou que, atualmente, apenas as sessões cineclubistas bissemanais promovidas pela Associação Ao Norte, que é parceira no “Andaime de Maio”, e os ensaios de várias bandas, também elas convidadas para o projeto, são as únicas iniciativas a garantir alguma atividade no interior do edifício.

Durante os três meses do “Andaime de Maio”, o projeto inclui a realização de “um ‘atelier’ onde os artistas vão trabalhar e que queremos que seja um local de interação e colaboração constante com cidade”.

A ideia de lançar o “Andaime de Maio” surgiu há cerca de dois anos, quando um amigo do Gil Monteverde estava a fazer o seu projeto final para a faculdade.

“Em quarentena, por causa da pandemia de covid-19, decidiu explorar o centro comercial. Estava a ajudá-lo nesse projeto e reparamos nas potencialidades, em bruto, do edifício”, frisou.

O “Andaime de Maio” foi o vencedor da edição 2021 do concurso “Viana Jovens com Talento”, promovido pela Câmara de Viana do Castelo, tendo recebido um apoio de 14.535,00 euros.

Na proposta submetida ao concurso municipal, os quatro autores dizem tratar-se de um “projeto de criação e programação cultural, de caráter gratuito e universal, que recebeu um apoio de 14.535,00 euros, pretende “apoiar e articular as necessidades da comunidade vianense numa dinâmica de cooperação artística entre pessoas, associações, escolas e criadores”.