A Xunta da Galiza informou hoje que vai intensificar a vigilância devido à “possível chegada de mais “pellets” de plástico às praias, e acusou o governo de omitir informação do executivo português sobre a queda de contentores no mar.
Em comunicado enviado à Lusa, a “conselleria” do Meio Ambiente esclarece que a intensificação da vigilância nas praias galegas devido ao aparecimento de toneladas de minúsculas bolas de plástico vai fazer subir de 200 para 300 o número de pessoas envolvidas na operação ambiental da Xunta da Galizas, “face à possível chegada de mais ‘pellets’ nos próximos dias devido à alteração das condições marítimas”.
A vice-presidente e conselheira do Meio Ambiente criticou a “falta de comunicação e obstáculos por parte do governo” espanhol, assinalando que “hoje foi publicamente revelado que as autoridades portuguesas notificaram o executivo central no dia 8 de dezembro de que o navio Toconao tinha perdido seis contentores [ao largo de Viana do Castelo], um dos quais com material plástico”, mas “essa informação não foi transmitida à Xunta, oficialmente”. Tal reduziu “a capacidade da Galiza de ativar uma resposta abrangente à possível chegada de destroços à costa”, afirmou.
“Aliás, em meados de dezembro o governo autónomo detetou a chegada pontual de resíduos plásticos a algumas areias, cuja origem desconhecia, e apesar de ter notificado o executivo central do incidente, este em nenhum momento alertou as autoridades galegas sobre o que aconteceu na costa portuguesa com o navio Toconao poucos dias antes”, acrescentou.
As regiões do norte de Espanha, da Galiza ao País Basco, ativaram ou elevaram hoje alertas ambientais por causa de toneladas de minúsculas bolas de plástico que caíram ao mar em dezembro em águas portuguesas.
Segundo informações divulgadas pelo governo espanhol, o armador do barco que em 08 de dezembro perdeu contentores da carga que transportava, a 80 quilómetros de Viana do Castelo, disse que caíram ao mar mais de mil sacos com cerca de 26,2 toneladas destas bolas com cerca de 5 milímetros de diâmetro, usadas para fabricar plásticos e que estão agora a dar à costa no norte de Espanha, com a imprensa local e associações ambientais a falar em “areais pintados de branco” e “maré de plásticos”.
Hoje, durante a reunião da Xunta da Galiza com técnicos da MeteoGalicia, com o diretor Geral Adjunto do Serviço da Guarda Costeira e o diretor do Instituto Tecnológico de Controlo do Meio Marinho (Intecmar), foram “avaliadas as previsões meteorológicas e o seu impacto na movimentação do material despejado em águas portuguesas”.
“Neste sentido, uma centena de efetivos vai juntar-se, nos próximos dias, às mais de 200 pessoas da operação ambiental desenvolvida pela Xunta”, indica a conselleria no comunicado.
A Xunta da Galiza elevou hoje ao nível 2 o Plano Territorial de Contingências para a Poluição Marinha Acidental da Galiza (Plano Camgal) “tendo em conta, entre outras, as previsões da MeteoGalicia”.
Para a conselleira Ángeles Vázquez, “o Governo Central deve agir dentro das suas competências e, sobretudo, no mar”. A responsável considera que o executivo “deve agora mobilizar os seus meios no meio marinho com o objetivo de recolher o maior número possível de sacos, evitando assim a chegada de pequenas partículas ao mar, onde a remoção resulta em algo muito mais complexo”.
O governo português disse hoje estar “atento” às toneladas de minúsculas bolas de plástico que deram à costa em praias do Norte de Espanha e que não detetou “qualquer vestígio” na costa portuguesa, segundo informações dadas pelo ministério do Ambiente.
A Capitania de Viana do Castelo revelou hoje estar “preocupada” e com “atenção redobrada” à possibilidade de a região ser afetada pelo problema, ao passo que a capitania do porto de Caminha afirmou estar vigilante perante a situação.
Em declarações à Lusa, Adriano Bordalo e Sá, hidrobiólogo e investigador da Universidade do Porto, defendeu que as autoridades devem vigiar a costa e “implementar um plano de contingência desenhado à medida” perante a “maré” de plástico” nas praias do norte de Espanha que pode afetar Portugal.
Bordalo e Sá observou que o granulado, usado como matéria-prima para produtos de plástico (designado por ‘pellets’ ou ‘nurdles’, em inglês), facilmente se transforma em nanoplástico, chegando à cadeia alimentar de peixes e bivalves e, consequentemente, à dos seres humanos, desconhecendo-se ainda todos seus os impactos.
A associação Zero alertou hoje ser “impossível recolher todo” o plástico que deu à costa em Espanha, em toneladas de minúsculas bolas que “rapidamente se espalham no ambiente”, chegando depois à cadeia alimentar humana.