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Oásis de frutos exóticos dá nova vida a campos abandonados em Arcos de Valdevez

Uma manta de retalhos de campos agrícolas abandonados, no meio de montes, em Ázere, Arcos de Valdevez, transformou-se num oásis de árvores de frutos cítricos de luxo, utilizados por ‘chefs’ de todo o mundo.

Nos terrenos outrora abandonados, onde crescia mato e sobreviviam castanheiros e oliveiras, florescem hoje sete variedades da espécie australiana de limão caviar – lima kaffir, bergamota, yuzu, kalamanzi, mão de buda, kumquat, limequat -, todas cítricos exóticos.

“Este ano produzimos três toneladas das sete variedades de limão caviar. Para o ano, esperamos chegar às 12 toneladas”, contou à agência Lusa Alexandre Bemposta, dono da exploração agrícola no distrito de Viana do Castelo.

O projeto criou 10 postos de trabalho, preenchidos com pessoas do concelho, número que aumenta durante as colheitas e conforme a produção.

O limão caviar é constituído por pequenos gomos que se assemelham às ovas de peixe. Cada quilograma dos pequenos gomos “pode custar, entre 40 e 120 euros”.

O elevado preço explica-se pelo exotismo da espécie e por ser de difícil cultivo.

“O mais caro é o limão caviar com os gomos rosa, salmão e verde. O quilograma custa 60 euros, mas, conforme a procura, pode chegar aos 120. Para ter um quilograma desse limão caviar são precisos 80 limões. Cada limão tem 12 a 13 gramas”, explicou.

Numa região marcada pela agricultura de minifúndio, o investidor começou por comprar 14 parcelas de terreno. A cada oportunidade de negócio Alexandre adquiria mais campos, e hoje a quinta soma seis hectares, onde também se cultivam laranja-violeta, com sabor a baunilha e morango, limões vermelhos, raiados e doces, maracujá, entre outras espécies.

Há plantas aromáticas, como a hortelã-chocolate, vendida a uma marca de gelados, frutos vermelhos como as framboesas, amoras e mirtilos, a pera-melão ou quivi bebé.

A produção da quinta é transformada na fábrica que Alexandre criou e está na origem de 70 produtos, todos com limão caviar, como as compotas, o azeite e vinagre aromatizados, os picles, gin ou a fruta desidratada transformada em pó para uso culinário.

Esta quinta de produção de limão caviar surgiu por “culpa” das ‘rodas’ do Vira, uma das mais antigas danças populares das aldeias do distrito e que, todos os domingos, acontecem espontaneamente em Arcos de Valdevez.

O empresário português, moçambicano por adoção, já investiu “em todo o mundo”, mas quando assistiu à ‘roda’ do Vira, animada por concertinas, castanholas, reco-reco e cantada pelas vozes afiadas do Alto Minho, sentiu que era em Arcos de Valdevez onde queria investir.

Em 2020, a família Bemposta, Alexandre, a mulher Maria, equatoriana, e os filhos, embarcaram na “aventura”, vivia-se então a pandemia de covid-19, que já se traduziu num investimento de 600 mil euros.

“O meu filho [Alexandre] entusiasmou-se a comprar árvores diferentes para plantarmos. Para termos para nós. Nunca pensámos em negócio. Mas foi assim que nasceu o projeto”, contou.
A família não fazia ideia do que era o limão caviar, nem dos preços praticados.
“É um fruto com um cheiro incrível” e de uso culinário diversificado, e quando Alexandre começou a ver os preços elevados a que era vendido questionou o motivo pelo qual não era muito cultivado.

A família decidiu arriscar. Começou por comprar e plantar 10 árvores de cada uma das sete espécies de limão caviar, plantas que podem atingir os sete metros de altura.

Passados três anos, na freguesia de Ázere, um local que muitos apostavam ser improvável para produzir aquelas espécies exóticas, estão plantadas seis mil árvores de limão caviar. Quando atinge a maturidade, cada árvore pode produzir 10 a 15 quilos de limão caviar. O fruto pesa, em média, 70 gramas.

“A produzir temos duas mil árvores e temos mil que só vão dar fruto no próximo ano. Este é o primeiro ano que temos uma quantidade razoável para venda. Cerca de 20% da produção destina-se aos nossos produtos. O resto é para vender”, disse.

O limão caviar de Ázere já se vende em todo o país, em hotéis e restaurantes de luxo. O mercado do Bolhão, no Porto, é um dos principais compradores do fruto e dos seus produtos.

Também se vende para a Madeira, “um pouco para Espanha” e França “começa agora a comprar”.

“Temos a sorte de estarmos num microclima em plena montanha. É um fruto que não se dá em todas as regiões do país. Tem de ser um clima temperado”, especificou. A água abundante e o adubo natural, composto de estrume da criação de animais e ervas daninhas, fizeram o resto.

A partir de outubro, os produtos com limão caviar vão estar à venda nos aeroportos de Lisboa e Porto.

“Não queremos industrializar os nossos produtos. Assim perderão a graça. É tudo feito à mão, desde a preparação do produto, às etiquetas, aos frascos. Nunca vamos ter produto para vender nas grandes superfícies. Vamos estar sempre nas lojas ‘gourmet’, observou.