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Jovens das regiões de fronteira sentem desigualdades no acesso a oportunidades

Os jovens de fronteira são resilientes, têm um forte sentimento de pertença ao país e à Europa, mas sentem desigualdades no acesso ao Ensino Superior e ao emprego, de acordo com as primeiras conclusões do projeto GROW.UP.

A cidade fronteiriça de Chaves, no distrito de Vila Real, foi hoje o palco para a apresentação dos resultados preliminares do primeiro ano do “GROW.UP – Crescer em regiões de fronteira: jovens, percursos e agendas”, uma investigação que envolveu 4.000 participantes de 38 municípios e que vai prolongar-se por mais dois anos.

O projeto está a desenvolver-se no Centro de Investigação e de Intervenção Educativas da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, envolve uma equipa de 10 pessoas e é coordenado por Sofia Marques da Silva.

No âmbito do GROW.UP foram inquiridos cerca de 4.000 jovens, desde o 9.º ao 12.º anos, que residem entre Caminha e Vila Real de Santo António. Foram também questionados diretores de escolas e vereadores dos pelouros da juventude e educação das câmaras. 

Sofia Marques da Silva explicou que o objetivo foi estudar e compreender os jovens que vivem nas zonas de fronteira e as influências contextuais, institucionais e sistémicas nas suas vidas, bem como analisar de que modo as comunidades estão a contrariar as desigualdades.

As regiões de fronteira em Portugal são frequentemente coincidentes com zonas rurais e remotas, afetadas pelas assimetrias e o despovoamento.
A investigadora, que falava à margem do primeiro “Encontro de Fronteira”, em Chaves, referiu que os resultados preliminares incidem na zona Norte (54% dos inquiridos) e que resultam das “perceções dos jovens”.

E, de acordo com essas perceções, os jovens sentem desigualdades em termos de acesso a oportunidades, quer educacionais quer de empregabilidade. 

“Uma grande parte dos jovens tem como expectativa ir para o Ensino Superior, mas a oferta é menor, independentemente de eles até quererem, e principalmente os rapazes, ficar nas suas regiões para prosseguir estudos”, referiu.

Há ainda, acrescentou, 10 casos em que os estudantes “têm de fazer um esforço adicional” e também têm de sair dos seus municípios para cumprirem a escolaridade obrigatória até ao 12.º ano. 

A vontade de sair para outros territórios à procura de novas experiências é comum, no entanto o estudo revelou um “forte sentimento de pertença” dos jovens em relação às suas regiões, ao país e à Europa, e “valores mais baixos” em relação a Espanha.

A investigação analisou “comunidades e escolas resilientes” e, segundo Sofia Marques da Silva, vai ser criado um ‘ranking’ com as abordagens e as diferentes formas de responder às necessidades dos jovens.
Nas regiões transfronteiriças os jovens sentem que o “apoio dos professores nas suas vidas é elevadíssimo”, mas consideram que existem menos atividades desenvolvidas pelas escolas para se relacionarem com as famílias.

A investigadora assinalou também a “heterogeneidade das regiões de fronteira”, com realidades diferentes nestes territórios.

Sofia Marques da Silva referiu que este é um estudo nacional que começou com um estudo de caso há 10 anos, na aldeia de Bemposta, em Mogadouro, onde foi tentar perceber os jovens que vivem em meios pequenos e rurais.

“Eles mostraram-me que não estão no fim do mundo, que sabem o que se passa no mundo e claro que aqui o digital e a ‘Internet’ têm um papel fundamental”, salientou.

Nos próximos dois anos serão aprofundados os estudos nas zonas Centro e Sul, vão ser organizados dois ‘e-books’ e um livro, desenvolvidos modelos de intervenção que possam ser replicados, feitas agendas para a juventude e criada uma aplicação onde os jovens podem analisar e avaliar a oferta educativa e cultural pensada para eles nos seus municípios.

O presidente da Câmara de Chaves, Nuno Vaz, destacou a importância do estudo para ajudar a “construir políticas públicas focadas nos jovens” e frisou que é preciso “criar territórios mais amigos dos jovens”. 

O GROW.UP é um projeto apoiado no âmbito do Compete e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e conta com um financiamento de cerca de 200 mil euros.

Fonte: Lusa