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Trompete criado em Viana do Castelo alia arte da filigrana à metalomecânica

Doze empresas portuguesas, das áreas da filigrana e da metalomecânica, ajudaram a criar um trompete concebido em Viana do Castelo, que vai ser apresentado, em maio, na cidade de Lisboa,  disse hoje à Lusa o autor do projeto.

“A rede de empresas que colaboraram para a realização do trompete é muito diversificada, variando da produção rigorosamente artesanal à alta tecnologia da produção industrial”, referiu Ermanno Aparo, docente da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG), do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC).

Professor de ‘design’, Ermanno Aparo explicou que “uma empresa da Póvoa de Lanhoso produziu os anéis do trompete, feitos em prata, utilizando a técnica da filigrana portuguesa”.

Já “os moldes, em aço, para a campânula e para outros componentes do instrumento, foram produzidos por uma empresa de metalomecânica de Viana do Castelo, que faz peças para a construção naval”, informou.

“Alia a tecnologia de ponta, utilizando máquinas de controlo numérico ou impressoras 3D, a acabamentos e técnicas pouco comuns no âmbito da produção deste tipo de instrumentos de sopro”, sublinhou o docente da ESTG.

Segundo Ermanno Aparo, o instrumento é “80% Made in Portugal”, sendo que apenas no bloco de pistões existe “a única componente fabricada fora do país, por um especialista italiano Cristian Bosc”.

O protótipo do trompete em si bemol – a versão do instrumento mais utilizada e mais comum -, “pretende demonstrar a alta qualidade da produção nacional, capaz de construir produtos de qualidade, num setor extremamente difícil como o dos instrumentos musicais”, disse.

Iniciado há dois anos e meio no Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design da Universidade de Lisboa, que detém um polo no IPVC, o projeto contou com a orientação do Departamento de Música da Universidade do Minho”.

“Desde a década de 70 que não se fazem trompetes em Portugal. Este é um exemplo de como a investigação de referência, articulada entre o ensino politécnico e o ensino universitário, não tem medo de se envolver com o mundo empresarial, determinando a qualidade do produto nacional e demonstrando que o que é nacional soa bem”, disse, adiantando “existirem manifestações de interesse no instrumento com origem no Japão, Israel, EUA, Brasil, Argentina e Grécia”.

Para “validar o processo de criação, o trompete foi testado por 25 trompetistas de música clássica e de música jazz de Portugal, entre eles Luís Granjo, da Orquestra Sinfónica da Casa da Música, Pedro Monteiro, da Orquestra Sinfónica Portuguesa, João Moreira, professor na Escola Superior de Música de Lisboa, e António Silva, trompetista e professor na Escola Profissional de Música de Viana do Castelo”.

O projeto “já foi apresentado em eventos científicos em Portugal e no Brasil, e a participantes em duas ‘masterclasses’ de trompete realizadas no conservatório de música da Bairrada e na Escola Profissional Artística do Alto Minho.

A apresentação pública vai decorrer, em maio, em Lisboa, estando previstas, até final do ano, outras ações envolvendo músicos e instituições “com o objetivo de promover o instrumento e, simultaneamente, promover a sua experimentação junto de profissionais da área”.

Numa segunda fase, o projeto prevê “a criação de uma mala para o instrumento, que será produzida com a colaboração de uma empresa de Santa Maria da Feira, produtora mundial de cortiça, e uma fábrica de equipamentos para escritório, que garantirá os acabamentos das peles”.

Produzido em cobre por Francisco da Cunha Liquito, um artesão de Caminha, o “Almada Trumpet”, como foi batizado, está avaliado em oito mil euros.