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Ponte da Barca quer elevar a Património Cultural Imaterial a tradição do “Pai Velho”

A Câmara de Ponte da Barca, distrito de Viana do Castelo, quer classificar o “Pai Velho”, tradição do Entrudo da aldeia do Lindoso, como Património Cultural Imaterial, tendo já contratado um estudo para a sua investigação e inventariação.

De acordo com um procedimento contratual de ajuste direto, hoje consultado pela Lusa, a investigação e inventariação do “Pai Velho” com vista à sua inscrição no inventário nacional do Património Cultural Imaterial foi adjudicada por 10 mil euros à empresa de investigação e desenvolvimento das ciências sociais e humanas Colativo Criatura, de Ponte de Lima.

De acordo com o documento publicado no Base – portal da contratação pública -, o estudo tem um prazo de execução de 548 dias.

A Lusa contactou o presidente da Câmara de Ponte da Barca, Augusto Marinho, para obter esclarecimentos adicionais sobre o projeto de classificação daquela tradição secular, mas tal não foi possível até ao momento.

No Lindoso, nos lugares de Castelo e Parada, em pleno coração do Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG) e no concelho de Ponte da Barca, a festa do Entrudo dá pelo nome de “Enterro do Pai Velho”.

É uma tradição única no país que assinala o início do ano agrícola nas povoações da serra. Trata-se de um cerimonial ancestral que representa a despedida do inverno e as boas-vindas à primavera.

Os festejos começam próximo do núcleo de espigueiros da aldeia, tendo como cenário de fundo o Castelo do Lindoso. A festa faz-se anunciar pelos caminhos da aldeia, ao som dos bombos, concertinas, ferrinhos, castanholas e cantares ao desafio.

A tradição do “Enterro do Pai Velho” começa com um cortejo pelos caminhos da aldeia em que participam apenas dois carros de bois: um com o busto de madeira do “Pai Velho”, que representa o inverno, e um outro dito “das Ervas”, representando a primavera.

Segundo a tradição, o carro do “Pai Velho” deve ter rodados de madeira de nogueira, chiando ruidosamente.

Atrás dos dois carros, seguem os tocadores de concertina, acompanhados em coro pela população, que vai entoando letras antigas locais.

Um ritual que se repete na terça-feira de carnaval. O desfile volta a sair às ruas, pela manhã, enquanto de tarde se realiza um baile animado por tocadores e cantadores ao desafio.

A festa termina perto da meia-noite com o “Enterro do Pai Velho”. A figura do “Pai Velho” é queimada numa grande fogueira, no centro do lugarejo, e é feita a leitura do testamento por ele deixado, onde satiriza publicamente situações que, durante o ano, andam na boca do povo, não poupando ninguém.

Apesar de toda a encenação, o busto do “Pai Velho”, em madeira de castanho, não é queimado, ficando guardado em local secreto, a cargo dos mais velhos da aldeia, até à festa do próximo ano.