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Sarah Affonso e a arte popular do Minho em exposição a partir de sexta-feira em Lisboa

O Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa, vai apresentar, a partir de sexta-feira, a exposição “Sarah Affonso e a Arte Popular do Minho”, um encontro entre a pintora e esta região, disse hoje a curadora Ana Vasconcelos, em visita guiada.

“Neste espaço de conversas [a galeria do piso inferior, do museu], a exposição é feita de pistas para a exploração deste encontro com Sarah, uma mulher fundamental para Portugal, não só por se ter casado com o conhecido artista Almada Negreiros, mas por ser ela própria uma artista conceituada dos anos 20 e 30”, explica a curadora.

Esta exposição reúne obras de pintura, desenho, bordado e cerâmica, inspiradas na iconografia popular do Minho, região que marcou fortemente a artista desde a infância e adolescência em Viana do Castelo, entre 1904 e 1915, e “que influenciou as suas criações artísticas”.

A pintora modernista “encontra-se sempre num percurso muito feminino”, seja no retrato de mulheres — lavradeiras, varinas, noivas, camponesas –, seja nas bijuterias, bordados, desenhos e pintura de cerâmicas.

“Quando pinta, mesmo que pareçam desenhos primários, Sarah sabe que quer desconstruir a figura e dar a volta ao cânone tradicional”, explica Ana Vasconcelos, acrescentando que a artista sentia que “as suas pinturas não eram percebidas”.

Um vestido de batizado, de 1934, bordado em seda e algodão, que “mostra o seu lado mais doce e feminino”, coleções de peças de cerâmica e barro, pintadas por Sarah, desenhos, quadros e objetos pessoais podem ser contemplados na mostra.

A ligação de Sarah Affonso com o Minho está representada por um traje rico de lavradeira, datado de 1882, uma coleção de postais, desde os finais do século XIX, com a evolução da figura feminina folclorista, e dois cartazes das Festas da Nossa Senhora da Agonia, de Viana do Castelo, de 1870.

Esta parte da exposição, que integra vídeos, fotografias, documentos e ícones da tradição minhota, como o galo de Barcelos e bijuteria em filigrana, “representa a fixação da imagem do Minho, ativa até aos nossos dias, numa tipificação dos trajes, gestos e pessoas da região”, explicou a curadora.

Ao longo do percurso da exposição ressalta a cor azul cobalto, uma escolha que ficou a dever-se “à cor do quarto de Sarah e Almada Negreiros, quando viviam em Bicesse”, no concelho de Cascais, aponta.

À entrada da exposição, pode ver-se um retrato de Sarah, um quadro pintado por Mário Eloy, pintor modernista do século XX, inspirado numa pintura de Eduardo Viana.

Sarah Affonso nasceu em 1899, em Lisboa, onde veio a casar com Almada Negreiros, em 1934. Na infância foi viver para Viana do Castelo, onde ficou até aos 15 anos. 

Estudou pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, onde foi discípula de Columbano Pinheiro e um dos seus derradeiros alunos. Dessa ligação, escreve a Gulbenkian, “terá ficado com o gosto pelo retrato e pela encenação de uma certa intimidade”.

“Foram poucas as mulheres que souberam transpor em Portugal as barreiras sociais à [sua] afirmação como artistas, nas primeiras décadas do século XX”, lê-se na apresentação da mostra.

A Gulbenkian recorda que Sarah Affonso “foi a primeira mulher a frequentar, contra todas as convenções, o [café] Brasileira, no Chiado, o que ilustra não só os preconceitos do seu tempo, mas também o espírito independente com que os encarava. Se, por um lado, o tempo em que viveu condicionou o seu percurso artístico, [também usou] as suas vivências e memórias, como matéria-prima da sua arte. Foi a partir da sua própria vida – da infância e dos laços de amizade e amor – que construiu uma linguagem e uma temática próprias”, escreve a fundação.

“Sarah Affonso e a Arte Popular do Minho”, desenvolvida no âmbito da celebração do 120.º aniversário da pintora, estará patente até ao dia 07 de outubro, na galeria do piso inferior do Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Fonte: Lusa